domingo, 5 de fevereiro de 2017

Taylor Swift: vítima ou culpada?

Essa semana, o Buzzfed postou o artigo How Taylor Swift Played The Victim For A Decade And Made Her Entire Career (Como Taylor Swift construiu toda a sua carreira bancando a vítima), um texto que pretende mostrar como Taylor Swift se fez de vítima para alcançar e manter seu sucesso.

Primeiro, é importante enfatizar que não sou a maior fã da Taylor Swift, não acompanho sua carreira além do que mostram os grande portais e nunca me dediquei a ouvir sua discografia. Por muito tempo achei que as pessoas a superestimavam. No fundo, a figura de garota doce e perfeita me irritava profundamente. Aí aconteceu o RED e depois o 1989, dois álbuns cheios de ótimas músicas que iam muito além do country antes característico da Taylor. Eu finalmente me apaixonei e não foi só pelo fator pop.

Tinha algo a mais na artista que visitava fãs em hospital, doava grana para que continuassem seus estudos e levava-os para ouvir seu álbum pela primeira vez em sua própria casa. Como profissional de Relações Públicas, tenho plena consciência de que muitos artistas usam da caridade para se promover, mas quando se trata da Taylor Swift, as doações nem sempre tem motivos óbvios.

Dito isso, vamos analisar o que diz o texto do Buzzfeed.

bora!


As brigas e os ex-namorados


Lendo o artigo, é difícil discordar de algumas partes. A briga com Katy Perry, por exemplo, se não foi uma tremenda campanha de vitimização, só pode ter a ver com ciúme do John Mayer e nesse caso não posso julgar porque eu provavelmente brigaria muito mais pelo John Mayer.

Por outro lado, Taylor Swift pode ter se sentido traída por acreditar que seus bailarinos são propriedade sua, algo comum entre pessoas que dificilmente ouvem um ‘não’ e provavelmente acham que o mundo lhes deve algo. Feio, bem feio. Mas como Katy Perry também não reagiu de maneira digna à treta, soltando indiretas sempre que surgia uma oportunidade, eu decidi simplesmente ignorar que essa briga um dia existiu e seguir em frente.

Outra crítica encontrada no texto é o fato de que Taylor Swift nunca escondeu que escreve músicas para seus ex-namorados. Por vezes as histórias ganharam detalhes explícitos, como quando ela contou que Joe Jonas terminou com ela pelo telefone. Além disso, a cantora é acusada de expor essas situações em períodos específicos que coincidiam com a data de lançamento de seus álbuns, apenas para promover sua imagem de vítima e, desta forma, impulsionar as vendas.

Feminista de ocasião


A militância feminista da Taylor Swift é outro aspecto largamente criticado e com razão. Milhares de textos foram (bem) escritos sobre isso, principalmente na época do mal entendido entre ela e a Nicki Minaj, mas sinceramente eu cansei desse assunto há muito tempo e tive preguiça até mesmo de pesquisar bons textos para linkar aqui.

Acho válido lembrar que as duas se resolveram na base da conversa e não trocando ataques. Que belo exemplo a se seguir!

A autora do artigo diz:

"É indiscutível, no entanto, que Swift não é de forma alguma uma aclamadora do movimento. Isso fica claro em seus comentários sobre haver um “lugar especial no inferno para mulheres que não conseguem apoiar outras mulheres” e a repetida menção de seu “incrível grupo de amigas” que sempre “estão entusiasmadas em relação a outras mulheres”. Mas, como o “Washington Post” pontuou: “Há uma diferença entre ser feminista e se chamar de feminista. O feminismo é mais do que apenas apoiar suas amigas ou só exibir frases encantadoras sobre o ‘girl power’; é um movimento político com objetivos políticos”. 

Concordo, mas se eu acho que Taylor Swift precisa subir muitos degraus de aprendizagem para poder se considerar feminista, também tenho certeza que ninguém no mundo nasceu descontruído, portanto apontar dedos não vai ajudar nenhuma causa, é apenas uma maneira suja de distorcer as coisas para provar um ponto.

Calma lá, cara


Em algumas partes, o artigo beira o absurdo, como quando posiciona Harry Styles como ‘pegador’ para depois dizer que Taylor Swift só ficou com ele porque nesse relacionamento apenas uma coisa era certa: o fim trágico. Ou seja, todas as outras mulheres ficaram com Harry porque ele é lindo e talentoso, mas Taylor só queria uma boa história de vítima para contar. Oi?! É pior que as teorias Lula-preso-amanhã. Depois dessa, sugiro assistir à performance abaixo de Out of the woods no Grammy Museum para entender um pouco do que foi esse relacionamento para Taylor:



"It’s kind of what you look for, solid and healthy (relationships), but that’s not always what you get. And it doesn’t mean that it’s not special and extraordinary just to have a relationship that is fragile and somehow meaningful in that fragility.” #quemnunca

Outro exagero é quando a autora fala do início da briga entre Taylor Swift e Kanye West, e de como ela se aproveitou de seu privilégio branco para ganhar o apoio do público. Até as roupas dos dois viraram fator relevante, como se ela exercesse algum controle sobre isso:

“A reação dominante, no entanto, foi um reflexo do que o mundo foi condicionado a ver: a “ameaça” de um homem negro “furioso” aterrorizando a “inocente” mulher branca. Até mesmo as roupas alimentaram o cenário vítima/vilão que iria definir o incidente: a imagem de West, usando cores escuras e uma roupa completamente preta, contra a Doce Swift, em seu vestido de festa branco e prateado.”

MASOQ


Em 2009, quando Kanye West subiu ao palco do VMA, pegou o microfone das mãos de Taylor Swift e começou seu discurso de como Beyoncé deveria ter levado o prêmio de álbum do ano, todos nós concordamos que ele foi um bosta. O que mudou agora? Realmente, a Taylor Swift nunca pediu para fazer parte dessa narrativa, em primeiro lugar.

E se ela conseguiu superar isso e utilizou essa situação adversa para faturar, eu acho é bem feito para o Kanye, que inclusive continua nos dando motivos para achá-lo um bosta (parêntese aqui para dizer que amo o Kanye West e odeio amá-lo, porém defendê-lo fica difícil).

E Joe Jonas não é menos merda por terminar com a namorada ao telefone só porque ela resolveu expor o que aconteceu. Superem isso porque o Joe já superou faz tempo! Outro que está cagando para o que a Taylor Swift faz e escreve sobre ele é o Harry Styles e eu acho que deveríamos ser mais como ele.

Assim como Taylor Swift pode ter usado seus relacionamentos para vender álbuns, a imprensa ajudou-a a construir a imagem de vítima e a utilizou em seu favor, vendendo revistas e espaços publicitários. Por esse motivo, é ridículo que usem a imagem que ajudaram a construir para tentar destruí-la, principalmente quando se ignora um pequeno detalhe: seu talento.

Os méritos da Taylor Swift


“A briga expôs que a fragilidade branca é o componente mais imperativo no sucesso de Swift.”

Na boa, apenas pare.

Ao afirmar que o maior responsável pelo sucesso da Taylor swift foi o vitimismo, a autora ignora anos de trabalho de composição; ignora o fato de Taylor Swift ser uma multi-instrumentista, uma performer, alguém que se garante seja cantando apenas com um violão, uma guitarra ou um piano de apoio.

Eu não vou ficar numerando os prêmios que Taylor Swift já recebeu ao longo de sua carreira, mas você pode clicar aqui para ver a lista completa. São muitos!

O que me incomodou profundamente nesse artigo foi o fato dele reduzir a Taylor Swift ao personagem que ela supostamente construiu (com a ajuda da mídia). E eu gostaria de finalizar esse texto com uma lista de gente que não presta e a gente poderia escrever mil teses sobre como não merecem a fama que tem:

Azelia Banks – Tá fora da casinha faz tanto tempo e nunca vi um texto dissecando como ela foi de militante pelo direito das mulheres e negros a persona non grata do twitter. Ninguém problematiza porque ela é parte da minoria ou porque é mancada chutar cachorro morto? Gostaria de saber;

Steven Tyler – Vamos falar sobre vitimismo, então. Terminei de ler a autobiografa dele semana passada e o que posso dizer? Segundo Steven, tudo de ruim que aconteceu para o Aerosmith foi culpa das ‘mulheres intrometidas’ dos integrantes. E é só ladeira abaixo. O cara é um escrotão, mas ninguém precisou escrever artigo sobre ele porque o próprio lançou um livro de quase 500 páginas mostrando quem ele realmente é: um merda;

Kanye West – Eu vou me reservar ao direito de não discorrer sobre ele, mas vocês joguem no google;

Chris Brown – Continua batendo e ameaçando ex-namorada, mas toda semana tem alguém lançando música em parceria com esse bosta. Até quando?!

Muitas pessoas comentaram que estavam se sentindo “vingadas”, que finalmente “alguém enxergou a verdade”, mas eu lhes pergunto: que verdade é essa, cara pálida?! Nós não somos feitos apenas do que as pessoas veem ou acham que entendem de nós; não somos bons ou maus; somos seres errantes que, com esperança, estão tentando melhorar dia após dia, erro após erro.

Como diria Taylor Swift, as melhores pessoas da vida são livres, principalmente aquelas que se livram dos rótulos que insistem em nos colocar.

Com as pedras que jogaram em mim construí meu castelo - TS


terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Fechando a porta de 2016

Estamos quase em fevereiro e eu já tinha desistido de fazer uma retrospectiva musical de 2016, primeiro, porque ouvi apenas uns quatro álbuns inteiros durante o ano e, segundo, porque, pelas minhas contas, descobri um total de: 01 artista diferente ano passado – vindo diretamente da trilha sonora de Esquadrão Suicida, o que me faz imaginar que a moça já deve estar hypada (se não está, deveria).

Porém, vira e mexe me pego pensando nas milhares de pessoas que eu poderia impactar, fazendo as palavras sagradas de Nick Jonas, Ariana Grande, Shawn Mendes, entre outros, chegarem aos corações aflitos e necessitados desse Brasil.

O ano do pop

Em maio vimos o nascimento daquele que seria um verdadeiro exemplar de discão da porra; Dangerous Woman, da Ariana Grande, é simplesmente maravilhoso! São 15 músicas e 55 minutos de pura satisfação pop, com letras deliciosamente safadinhas e vocais afinadíssimos, com direito a melismas e agudos perfeitamente executados.

O fato de a Ariana Grande parecer ter 16 anos e ser colocada em posição de símbolo sexual sempre me incomodou muito, por isso sua série de vídeos cantando acapella é uma das coisas mais maravilhosas já lançadas – principalmente pela Ariana, que aparentemente só grava clipe ruim, com o único objetivo de sensualizar para as câmeras (nada contra, mas acho que ela poderia entregar mais). Se ainda não ouviu Dangerous Woman e Into You sem os instrumentos, faça isso! Preferencialmente usando fones de ouvido.

Minhas favoritas são Dangerous Woman (óbvio!), Be Alright e Bad Decisions. Mas eu amo todas as músicas desse álbum, de verdade.

Menção honrosa para o clipe de Let Me Love You, que apesar de ser mais do mesmo, tem aquela cena final da Ariana Grande rindo com o Lil Wayne que é a coisa mais fofa da história dos clipes da Ariana Grande com o Lil Wayne (sério, gente, é muito fofo!).

ouve meu álbum, vai. nunca te pedi nada...


Mais tarde, em meados de junho, fui avisada por meio do twitter de que Nick Jonas havia acabado de lançar seu terceiro álbum, Last Year Was Complicated. As expectativas eram altas, já que o CD anterior tinha nos presenteado com ótimos singles, como Jealous, Chains (Nick Jonas cantando acorrentado em uma boate gay pode salvar seu dia) e Numb.

Felizmente, a graça foi alcançada e Last Year se mostrou o melhor trabalho do Nick Jonas, pelo menos até agora (pelo menos para quem só ouviu os dois últimos álbuns dele). O puro creme do pop dançante, choroso e grudento. Recomento muito! É o tipo de música sofrência que não te deixa sofrer demais porque 1) dá para fazer uns passinhos, 2) a voz maravilhosa do Nick Jonas distrai e 3) você fica imaginando aquele cara abençoado cantando essas coisas no seu ouvido. É uma ótima combinação.

Minhas músicas favoritas são Champagne problems, Chainsaw e Bacon.

OLAR


Em setembro, junto ao meu desemprego, veio Illuminati, o segundo álbum do Shawn Mendes, o que encaro como uma forma de a vida dar uma balanceada nas merdas pelas quais ela eventualmente faz a gente passar. Esse foi o único álbum que me fez deixar Dangerous Woman de lado.

Se você não sabe quem é Shawn Mendes, aqui vai um resumo: canadense que começou a carreira aos 16 anos postando covers de Justin Bieber e outros artistas no Vine, por diversão. Em pouco tempo, ganhou um monte de fãs, gravou dois álbuns, lotou as principais casas de show da América do Norte e conquistou a admiração de gente grande como Taylor Swift e John Mayer – de quem ele ganhou uma guitarra(!!!). É uma das atrações confirmadas para o Rock in Rio desse ano. Ah, ele tem 19 anos.

A voz do Shawn Mendes lembra um pouco a do Justin Bieber em seus melhores momentos, mas ele escolheu o caminho do pop mais acústico, como o Ed Sheeran. Illuminati tem momentos muito próximos da sonoridade do John Mayer – o cantor até chegou a dar alguns pitacos na produção desse álbum –, mas não chega a ser apenas uma cópia.

Minhas favoritas são Ruin (t ã o J o h n M a y e r!), Lights On e No Promises.

ouch!

Algumas descobertas

Teve essa moça chamada Grace que ouvi na trilha sonora de Esquadrão Suicida cantando uma versão de You Don’t Own Me, música-tema da personagem Arlequina. Eu me recuso a aceitar que as pessoas não foram atrás da mulher depois de ouvir essa mistura de Joss Stone com Duffy.

Pois Grace lançou um álbum poderosíssimo em 2016, FMA, cheio de baladas maravilhosas. Ela nos presenteou com, por exemplo, Church on Sunday, que nos primeiros acordes já nos dá aquela vontade de ir pra pista e virar rainha do baile, e Hell of a Girl (como uma música com um nome desses poderia ser ruim?! É boa por demais!). O disco continua um pouco devagar, mas igualmente delicioso. Ah, ela tem 18 anos, mais uma prova de que os novinhos vão dominar o mundo mesmo!


Finalmente, em algum momento do ano, eu fui fazer uma limpa nos meus favoritos e encontrei um link para o site dessa banda, The Wild Feathers, que estava salvo desde... 2013 (!!!). Se você gosta de um sonzinho indie moderado, vai curtir os moços. Além de tudo, eles são super simpáticos no twitter e costumam responder a galera.


E é basicamente isso. Antes de Dangerous Woman eu não faço a mínima ideia do que tocava na minha playlist, principalmente porque cancelei o Spotify (sdds) e fiquei sem esses dados – uma parte muito ruim de não ter conta no Spotify que a gente só percebe na hora de escrever um texto de retrospectiva musical do ano.

Como é notório, ouvi pouquíssima música brasileira ano passado e esse é um erro que espero corrigir em 2017. Se bem que eu falo a mesma coisa todo final de ano e nunca consigo mudar, então se alguém puder me ajudar indicando boas bandas e artistas brasileiros, ficarei muito agradecida! Se eu conseguir ouvir um álbum de música brasileira por trimestre já será uma vitória.

E se você leu esse texto até aqui, parabéns, você é um(a) guerreiro(a)! me conta quais músicas marcaram seu 2016!